A atual pandemia causada pelo SARS-COV-2, que causa a COVID-19 e assusta pela infectividade elevada e pelo risco que representa, principalmente para os idosos e portadores de comorbidades, evidencia a importância e os riscos do trabalho dos médicos e demais profissionais de saúde, não somente na atual conjuntura epidemiológica, mas no cotidiano de suas atividades.

Os momentos de grande demanda por atendimento, sentidos de modo ímpar neste enfrentamento ao Coronavírus, colocam em evidência a precariedade de nosso sistema de saúde: falta de EPI (equipamentos de proteção individual) adequados e/ou em número suficiente, dentre vários outros aspectos, causam enorme preocupação por expor de forma indefesa médicos e pacientes aos riscos infecciosos, com complicações que poderiam ser evitadas e disseminação do vírus de forma a elevar as estatísticas por falha de gestão.

A gestão, em todos os níveis, detém uma grande parcela de responsabilidade nos momentos como o que vivenciamos, ressentindo-se a saúde pública da utilização inadequada das verbas, da falta de previsão ante um fato que se anuncia com bastante antecedência, do trabalho em home office de alguns gestores que veem o médico como um número ou um indivíduo que deve ser convocado a prestar um serviço que aumentará seu risco pessoal e de sua família pela exposição indevida causada pela proteção inadequada.

O médico, por natureza e por formação, como regra, nem precisa ser convocado para enfrentar as ameaças à saúde da sociedade. É workaholic. É um profissional que quase não se aposenta. Dizem que apenas quando morre!

Por sua atuação, o médico ainda é um dos profissionais que podem ser considerados como heróis em sua atuação: como regra, sacrificam o descanso, a alimentação, o convívio social, os momentos familiares etc. A maioria por escolha; alguns por necessidade.

Entretanto, cabe distinguir entre heroísmo e martírio!

O heroísmo do médico pressupõe a atuação incansável e buscando superar todas as dificuldades inerentes a sua atuação, superando a falta de insumos, medicamentos, conforto e repouso, a péssima remuneração, dentre outros. Em algum momento, mesmo que precariamente, volta para casa e, até, descansa.

Obrigar o médico a trabalhar em condições inadequadas para si, para os demais profissionais de saúde e para a população a assistir, em uma situação epidêmica, negando o mínimo para sua proteção, como EPIs adequados, pode condená-lo à morte e comprometer todos os que dele dependem.
Há médicos idosos, médicos cardiopatas, médicos com doenças autoimunes, médicos pneumopatas, médicos com doenças oncológicas, médicos hipertensos, médicos diabéticos, médicos asmáticos…

O médico também adoece, como seus pacientes, porém, na maioria dos casos, permanece trabalhando. Entretanto, seu trabalho, mormente na atual epidemia, sempre será de risco; sem o EPI adequado poderá ser-lhe fatal.

Não vejam em minha manifestação alguma exortação à falta ao trabalho pelo médico; de modo nenhum. Requeiro das autoridades federais, estaduais e municipais que gerenciam a saúde em nosso Estado o reconhecimento do médico como herói e não sua transformação em mártir. Nosso Código de Ética Médica nos proíbe de desassistir o paciente ou de descumprir a legislação vigente (feita pelos políticos em seus refrigerados gabinetes), porém nos obriga a denunciar as condições inadequadas de trabalho ao órgão de classe (CRM), à Comissão de Ética da instituição e ao Diretor Técnico da mesma.

Um médico custa muito para se formar e se especializar, além de ser digno de respeito como todos os profissionais. Perder um médico é perder um dos bens mais preciosos de um país, de uma comunidade; e perdê-lo por deszelo é um atentado à sociedade e a nossa milenar profissão.
Alguém mandaria um bombeiro entrar em um incêndio sem a mínima proteção para ele?
Colegas médicos: sejamos heróis.

Manoel Walber dos Santos Silva
Presidente do CRM-PA

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