O MÉDICO DO PARÁ E A LUTA PELA VIDA”

 

A Medicina sempre apresentou, como parte integrante da personalidade da absoluta maioria dos que a integram, a busca constante da atualização e da descoberta de condutas a cada situação nova mais adequadas, também a empatia com o que sofre e a dedicação acima do bem estar pessoal. O risco infectocontagioso sempre esteve presente na atuação de cada médico ao longo dos séculos, sendo mais bem compreendido com as descobertas da microbiologia que levaram aos avanços profiláticos e terapêuticos que hoje propiciam procedimentos assépticos, métodos de barreiras mecânicas, vacinas e antibióticos etc.

Há um século, um terço da humanidade foi dizimado por uma pandemia: a gripe espanhola. De lá para hoje, as vacinas conseguiram impedir catástrofes semelhantes e, inclusive, tornaram extintas doenças como a varíola.

O mundo passou a ser nas últimas décadas, realmente, uma “aldeia global”, termo inicialmente entendido como a facilidade da comunicação instantânea com qualquer canto do planeta, mas, também e de igual importância, pelo rápido deslocamento entre países antes de difícil acesso, mesmo aéreo. As viagens mais rápidas, associadas a uma imprópria segurança quanto ao aparente desaparecimento de algumas doenças em vários países, como é o caso do sarampo em nosso solo, foram vetores do recrudescimento de várias doenças infecciosas que foram negligenciadas quanto a vacinação em razão de sua aparente ausência de risco experimentado pelas novas gerações.

Nesse mundo de contato quase imediato entre viajantes dos vários continentes, enfrentamos o medo da disseminação do vírus ebola, da gripe aviária e de outros surtos experimentados em cantos remotos do planeta.

Entretanto, mesmo com toda experiência e conhecimento acumulados em relação ao controle e profilaxia dos surtos infecciosos e dos eventos epidêmicos, autoridades mundiais e locais foram reticentes em relação ao risco de um vírus asiático assumir proporções maiores de contágio, algumas dizendo que seria uma “gripezinha” e até a OMS, de início, não recomendando, por exemplo, o uso de máscaras.

O vírus recebeu o nome SARS-CoV-2 (um coronavírus) e a doença (síndrome) causada por ele COVID-19 e, rapidamente, mostrou seu potencial letal no hemisfério norte. Ao chegar ao Brasil o primeiro caso, importado, a grande mídia, a classe artística e as autoridades em geral nada fizeram para que as gigantescas concentrações populares dos lucrativos eventos carnavalescos fossem suspensas como importante medida preventiva de disseminação viral. O resultado passou a ser notado logo após esses eventos.

Em parte por uma politização danosa e desnecessária, visto que o interesse político-partidário e individual nunca deve se opor ao coletivo, observamos conflitos que retardaram medidas importantes, denúncias de corrupção no uso das verbas públicas, tentativas de impor à classe médica condutas que iriam de encontro à autonomia do médico e do paciente, e, dentre outros mais, oportunismo na contratação de profissionais sem qualificação comprovada (em termos legais, inclusive) para atuar no enfrentamento de uma das mais graves situações já vivenciadas pela humanidade e que, por isso mesmo, exige maior preparo dos agentes no seu combate.

Os médicos registrados nos Conselhos Regionais (CRMs), ao contrário do que muitos tentaram apregoar, não se negaram ao atendimento da população durante a pandemia. Pelo contrário, foram e são incansáveis. Entretanto, por dever ético e por querer as melhores condições para o exercício técnico e humanitário da profissão, denunciam e exigem das autoridades os EPI, a disponibilidade de leitos para alto risco, medicações adequadas e em quantidade suficiente, autonomia no exercício profissional, segurança para si e para os pacientes etc. Profissionais sem o vínculo com o Código de Ética Médica vigente e contratados precariamente podem ter limitações quanto a esses aspectos mencionados.

Nessa Semana do Médico de 2020 não teremos festa, mas não estaremos de todo tristes. A luta dos médicos do Pará pela vida tem apresentado resultados bastante positivos, com algumas baixas e sequelas que refletem a dedicação, o esforço e a presença na linha de frente nessa batalha que ainda não terminou.

Até o presente, tivemos quarenta e oito (48) médicos com inscrição no CRM/PA que foram a óbito pela COVID-19. São homens e mulheres, filhos, pais, mães, avós, amigos, colegas, vizinhos… que deixam saudades, mas nos enchem a todos de orgulho por saber que atuaram na profissão que, certamente, os fez felizes e os motivava a levantar a cada dia até idade avançada para dar sua imensa contribuição para uma humanidade melhor, mais saudável e mais feliz.

Por isso, no evento deste ano de 2020, embora nominemos todos os quarenta e sete colegas que tombaram pela pandemia, homenageamos a toda a classe médica paraense, presente e atuante em nosso gigantesco território e que tem orgulho dos que se foram e dos colegas que a compõem.

Nosso reconhecimento, com todo o corpo de conselheiros, aos médicos do Pará, que atuam com unidade e ética.

Dr. Manoel Walber dos Santos Silva

Presidente do CRM/PA

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